sábado, 22 de setembro de 2007

As faces do humor na mídia

O cotidiano torna as pessoas cada vez mais necessitadas de minutos de descontração e prazer. Como o tempo é algo cada vez mais escasso na vida de todos, coisas como assistir televisão, escutar rádio e navegar pela internet são meios práticos que possam servir de entretenimento.

Podemos notar que nos dias de hoje o humor, como é apresentado na mídia, vem acompanhado de figuras cada vez mais características de uma falta de conteúdo e originalidade. A televisão, como principal veículo de informação, traz em sua grade de programação atrações voltadas ao sexo mascaradas em programas humorísticos.

Existe uma certa pressão por parte dos patrocinadores e chefes de canais de televisão sobre os gerenciadores de programas humorísticos. Como são os indíces de audiência o objetivo de qualquer programa, os produtores cada vez mais carentes de conteúdo e menos dedicados ao exercício mental, usam das perversões sexuais de maioria dos telespectadores e incluem em seus programas piadas cada vez mais antigas e, na maioria das vezes, sem graça contadas por mulheres quase nuas. Mas o telespectador não liga, pois maioria da audiência desse tipo de programa é formada por pais de família ou pessoas que tentam passar uma imagem de respeito perante seus familiares e que sentam no sofá e fiacam diante da tevê fingindo estar prestando a atenção na piada. A atração humorística nesse caso serve para que tais pessoas não precisem expôr seus desejos vendo programas de madrugada com conteúdo pornográfico, basta que liguem a televisão em horário "nobre" e disfarcem com uma risada falsa ou finjam que ligaram a televisão só para espantar o silêncio dentro da casa.

Claro que não são todos os programas que usam dessa fórmula para atrair audiência. Temos os desenhos, seriados e filmes que trazem um conteúdo mais elaborado do que os programas feitos com este intuito. O problema maior está na administração das emissoras de televisão, que colocam as pressas programas mal elaborados e de caráter duvidoso em busca da melhor pontuação nas pesquisas de audiência.

O empobrecimento do humor também está presente na grande rede mundial de computadores. A internet, como um meio que dá a qualquer pessoa um espaço para divulgação de seus trabalhos, coloca na mão de pessoas insensíveis ao cotidiano formas de apresentar o humor como algo violento e de ataque pessoal à imagem. Fotos montadas em cima de imagens, com uso depreciativo de frases dúbias, são colocadas a cada minuto na Web. Também são colocados vídeos onde as pessoas se sujeitam ao ridículo em busca de uma fama que não passa de algo passageiro e que acabam sendo esquecidas tão logo surgem outros casos toscamente semelhantes.

É muito fácil nos dias de hoje para qualquer mortal tentar fazer humor na internet. O problema maior é que nem todos tem capacidade para isso, o que acaba gerando sites que apenas repassam o conteúdo de outros sites ou linkam notícias com algum comentário jocoso e banal. Também há websites que parecem trios elétricos com suas imagens em formato ".gif" ou ".swf" piscando e mudando rápidamente como aquelas luzinhas de natal. Algo que é destinado para chamar a atenção quando usado em uma página mas que acaba fazendo com que o internauta se perca sem saber aonde clicar ou o que ver em uma página. Isso acaba gerando uma fadiga que faz com que o visitante destas páginas dê apenas uma olhadela nas postagens mais recentes e mude rapidamente para outra página. Talvez seja até uma estratégia de alguns blogueiros para que as pessoas não exijam tanto conteúdo de seus sites pessoais.

Ainda no campo da internet, muitas coisas banais são colocadas apenas para que os sites permaneçam atualizados. Enquanto na televisão os produtores buscam indíces de audiência, os criadores de sites buscam visualizações para suas páginas. Comentários sobre artistas e celebridades são postas como que em revistas de fofocas, porém, em sites que muitas vezes é visto em sua maioria pelo público masculino. Gera uma certa incoerência quando vemos em um mesmo site notícias sobre artistas, comentários sobre futebol, links para sites pornôs e piadas prontas (notícias que acabam virando fotomontagens de conteúdo simplório), parecendo que seu administrador não tem um foco e que sua criação não passa de um rabisco colocado ao dispor dos internautas.

Nem tudo é lixo na grande rede, mas todo internauta tem que estar pronto para navegar por várias páginas e com um pouco de sorte achar algo que realmente o entretenha em um site. As vezes, na busca de algo para se descontrair, a pessoa acaba apenas usando o botão esquerdo do mouse frenéticamente pelas várias páginas, clicando em links e mais links. Tudo isso graças aos nossos amigos blogueiros, que criam parcerias e disponibilizam em suas páginas links para outros sites de conteúdo idêntico ao deles. Pelo menos é uma opção que nos é dada, algo como dizer para nós "desculpe-nos pela falta de conteúdo, clique nos nossos sites parceiros e veja se tem algo realmente engraçado".

Uma figura cada vez mais em extinção mas que sobrevive com uma certa valentia de herói são as emissoras de rádio. Dividindo o espaço entre músicas e brincadeiras que premiam o ouvinte, estão os locutores que aparecem para fazer algum gracejo com as pessoas que ligam para certos tipos de programas nas rádios.

Mesmo locutores que estão quase na terceira idade usam de certas gírias da mocidade atual tentando mostrar uma certa aparência "descolada". Verdadeiros vovôs conversando com garotas adolescentes que ligam para as rádios para pedir músicas e que parecem estar prontos para qualquer festinha.

Também há os casos em que os ouvintes que ligam e são escrachados pelos radialistas.Mas tudo isso faz parte de uma programação que visa entreter as pessoas fazendo com que elas acreditem que são mais jovens do que são, trazendo para seu público um programa onde o palhaço não é quem coordena o show e sim quem o frequenta. O ouvinte é tratado como uma marionete e é manipulado para tropeçar nas palavras e dizer besteiras. Quando, consciente disto ou não, o ouvinte não cai na trapaça do radialista, temos a velha piada do "pi...pi...pi... seu telefonema caiu, vamos para a próxima ligação".

Existe na mídia lugares onde são colocados humor de qualidade, o que presenciamos hoje em dia é apenas a banalização e não a extinção dele. Cabe a todos tentar achar o lazer na convivência com seus amigos, familiares e todas as pessoas ao redor, pois quem tem uma convivência saudável está sempre de bom humor e não precisa recorrer às piadas "industrializadas".